No dia 4 de novembro entrou em vigor o Acordo de Paris, com o objetivo de limitar o aumento da temperatura global abaixo de dois graus e, se possível, próximo a 1,5 grau. É notável que, em apenas 11 meses, mais de 80 países, representando quase 60% das emissões mundiais, já ratificaram o acordo, permitindo que entrasse em vigor em tempo recorde.
E tem que acelerar mesmo.
Desde o início de 2014, o planeta tem batido recordes de temperatura
seguidamente a cada mês. No ritmo atual, a marca de 1,5 grau de aumento de
temperatura pode acontecer em menos de uma década. Se, por um lado, as
estimativas de emissões globais ainda não apontam o início da queda (embora
tenha desacelerado o crescimento dos últimos cinco anos); por outro, vários
movimentos mundiais indicam que o alinhamento global provocado pelo Acordo de
Paris começa a refletir em grande escala na tomada de decisões de longo prazo
de governos, indústrias e setor financeiro.
O setor de aviação civil
fechou um novo acordo para limitar as emissões globais em 2020 e compensar todo
e qualquer aumento depois disso. Os setores de cimento, siderurgia e navegação
também discutem medidas a serem adotadas. Mais de 400 empresas globais já
aderiram à agenda do desmatamento zero na sua cadeia de valor até 2020.
Na área de transporte, 2016
será lembrado como o ano em que a revolução dos transportes ganhou tração. A
eletrificação, conectividade e automação dos veículos passou a ser,
definitivamente, o futuro da massa de produtores de veículos. Praticamente
todas as grandes montadoras globais revelaram planos mais ou menos acelerados
para eletrificar sua frota, correndo
atrás das centenas de startups do setor.
O hyperloop — transporte ultrarrápido em tubos a semivácuo — terá
seus primeiros testes de campo nos próximos meses. A emissão de greenbounds
(títulos verdes) para financiamento de infraestrutura de baixo carbono disparou
de US$ 2,6 bilhões para US$ 42 bilhões entre 2012 e 2015 e já superou US$ 61
bilhões em 2016.
Enquanto isso no Brasil os
sinais são controversos. Ratificamos o Acordo de Paris rapidamente, mesmo em
meio à turbulência política, e o BNDES anunciou que não mais financiará térmicas a carvão. Por outro lado, o
Congresso acaba de aprovar um projeto de lei que cria um programa de renovação
e ampliação do parque termelétrico a carvão (como voltar ao século XIX) ao
mesmo tempo em que o desmatamento mostra as garras e volta a subir.
Precisamos parar de dar
sinais dúbios e apontar a nau brasileira para o centro da revolução em curso. O
mundo deu a largada e vai acelerar; se comermos bola, corremos o risco de
largar dos boxes ou nem participar da corrida.
Publicado no Jornal O Globo
em 26.10.2016
Fonte: Blog Tasso Azevedo
Imagens: Google imagens