Nos
anos 1970, alguns economistas questionaram se existiriam limites ao crescimento
econômico impostos pela escassez de recursos. A tecnologia ofereceu uma
resposta contrária de que isto poderia ocorrer, ao menos inicialmente. Como um
amigo costumava brincar “o pen drive
salvou mais árvores do que qualquer ambientalista poderia imaginar”. De
fato, a tecnologia permitiu o crescimento com menos uso de recursos em termos
per capta, mas conseguirá a tecnologia nos livrar de outro limite: a capacidade
do planeta de servir como “depósito
de lixo”?
Quando
se trata de resíduos sólidos, os números são astronômicos. Coletivamente os
centros urbanos geram mais de 1,3 bilhão de toneladas de lixo por ano, o que dá
cerca de 1,2kg por pessoa por dia, de acordo com o Banco Mundial. Além da
geração de lixo, outro problema é o quanto é tratado antes de ser lançado de
“volta” ao ambiente. E aqui me recordo de uma velha lição do jardim da
infância: precisamos limpar a nossa bagunça. A tecnologia pode ajudar, mas
ações governamentais, aliadas com educação, me parecem mais do que desejadas,
são urgentes.
Coleta
Para
quem teve oportunidade de conhecer algumas de nossas praias rios e matas na
infância, visitar
estes lugares hoje só causa tristeza. O adensamento urbano
desorganizado, a falta de planejamento e de interesse governamental, a
“cultura” de descompromisso com o meio ambiente nos legaram, em pouco tempo, um
meio ambiente pior. Nossos rios recebem diariamente uma enorme quantidade de
esgoto não tratado e de lixo que seguem o curso para nossas praias. Muitos
imaginam que basta “empurrar” o problema para a frente que tudo se resolve.
Ledo engano, não há nada mais certo que o princípio da reciprocidade na
natureza, colhemos o que plantamos. Anos e anos de sujeira em rios como o Beberibe e o Capibaribe destruíram e continuam a destruir a nossa
beleza natural.
De
acordo com a PNAD, em 2014, apenas 41% dos domicílios no Nordeste possuíam
ligação com rede coletora de esgotos. E isto não quer dizer que este esgoto é
tratado, mas apenas “coletado”. Precisamos parar de aceitar e contribuir com a
ideia de que o planeta tem uma
infinita capacidade de servir de “depósito
de lixo”. Universalizar a coleta e o tratamento do esgoto e do lixo é um
objetivo ambicioso, mas deve começar enquanto temos tempo. Além disto, obrigar
prédios de apartamentos, residências, escolas e empresas a disponibilizarem
recipientes de lixo recicláveis pode ser um início. Estabelecer metas claras de
alcance da coleta e tratamento de lixo e esgoto para os municípios e penas
duras para gestores que não cumprirem as metas em determinado prazo seria
outro. Os governantes devem ser responsabilizados, mas todos devem colaborar.
Como diz o ditado “costume de casa vai à praça”. Tenho esperança de que a lição
de “limpar a nossa bagunça”, que ensinamos aos nossos filhos, possa ser
aplicada ao meio ambiente.
Marcelo
Eduardo Alves da Silva – professor do Departamento de Economia da UFPE.
Diário
de Pernambuco – 27 e 28 de agosto de 2016.
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